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Nutricionismo: você já ouviu falar?

Publicado em 02 de setembro de 2022


Esse termo, que deriva da fusão entre nutrição e reducionismo, foi cunhado pelo autor Gyorgy Scrinis em seu livro que leva como título o próprio termo “Nutricionismo”. Ele serve para despertar uma discussão muito importante: faz sentido reduzir um alimento a um (ou alguns) nutriente(s)?

Scrinis conta em seu livro que sua dieta consistia em alimentos minimamente processados, frutas e legumes na sua maioria, ele cozinhava seus próprios alimentos, muitas vezes vindos da sua horta. Um dia, preparando seu café da manhã com ovos das suas galinhas e pão de fermentação natural que ele mesmo produziu, se pegou pensando que estava “quebrando alguma regra nutritiva”, uma vez que sua refeição era rica em colesterol e carboidrato refinado. Seu livro traz, então, uma reflexão nesse sentido. 1

Scrinis critica o reducionismo na maneira com que as pesquisas na área da nutrição chegam à população em geral. A maneira como uma situação experimental é traduzida para outra do dia a dia sem o cuidado de ponderar a interpretação, sem fazer as ressalvas que seriam cabíveis.

Por exemplo, em determinada pesquisa é selecionado um nutriente de interesse, digamos o colesterol, e aí são analisadas uma série de características do colesterol e os impactos deste sobre aspectos de saúde. Nesse tipo de abordagem científica, é comum isolar o composto de interesse para que possamos entender melhor o seu papel. No entanto, naturalmente ninguém se alimenta de uma barra de colesterol, ele está diluído nos alimentos, combinado a diversos outros nutrientes. E por esse motivo, seu efeito no corpo pode ser ligeiramente diferente daquele observado em laboratório. Sua absorção e seu metabolismo podem ser alterados, por exemplo, pela associação de compostos ingeridos na mesma refeição.

O problema é que, muitas vezes, os resultados dessas pesquisas – de um único nutriente isolado e em condições experimentais específicas – são utilizados de maneira distorcida, para categorizar um alimento em “bom” ou “ruim”. No caso do colesterol, pudemos observar isso com o ovo, que por muitos anos foi considerado um vilão devido a sua carga de colesterol e o possível aumento no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Hoje, sabe-se que o consumo moderado de ovos não prejudica o controle da lipidemia (níveis de gorduras na corrente sanguínea) em longo prazo, nem aumenta o risco de doenças cardiovasculares. 2,3

Conceito de alimentação segundo o Guia Alimentar da População Brasileira, 2ª Ed. Adaptado de shutterstock.com, 2022.

 

Alimentos são mais do que apenas nutrientes

Para ilustrar isso podemos pensar numa laranja. Usando o conceito do nutricionismo ela poderia ser representada como: tantos gramas de carboidratos, tantos gramas de fibras e tantos miligramas de vitamina C. Ou até pior, apenas a porção relativa à vitamina C. Esse tipo de visão reducionista negligencia todos os demais nutrientes que compõe a laranja, como ácidos graxos e outras vitaminas que estão presentes em menores quantidades. Mas, além disso, também são deixados de lado aspectos importantes da nutrição: todo o contexto da alimentação que vai muito além dos nutrientes que compõe tal alimento.

Imagine duas situações. Na primeira, pense em alguém que cresceu em uma casa com uma laranjeira no quintal, que tinha o hábito de se reunir com a família no quintal depois do almoço comendo uma laranja e conversando sob o sol. Para a segunda situação, imagine uma pessoa que usou um aparelho ortodôntico durante muitos anos, e cada vez que tentou comer uma laranja sentiu a acidez provocando dor nos pequenos cortes causados pelo aparelho. A primeira pessoa pode amar comer uma suculenta laranja, já a segunda criou aversão por ela.

Nessas situações hipotéticas estamos falando exatamente do mesmo alimento, os nutrientes da laranja serão exatamente os mesmos. No entanto, também é possível visualizar que comer algo não se trata exclusivamente da ingestão de nutrientes. O comportamento alimentar é algo complexo e ignorar este fato só nos traz problemas.

O grande problema

Bem, até aqui você já deve ter percebido que essa vertente pode ser prejudicial para a saúde, não é mesmo? Mas, agora vamos destacar outro ponto: a distorção que a indústria de alimentos ultraprocessados reforça todos os dias.

Você já viu aquela propaganda de bicoito recheado que se vende como saudável ao anunciar coisas como “livre de colesterol” e “rico em fibras”? Ao evidenciar aspectos como esse, com técnicas de vendas estudadas para gerar o desejo da compra, pode-se induzir os consumidores a pensarem que comer esse biscoito recheado é realmente saudável, que ele é um alimento “bom”. Enquanto isso, do outro lado, um ovo orgânico, por exemplo, rico em colesterol pode ser considerado um alimento “ruim”.

Percebe a confusão que isso pode causar? Alimentos ultraprocessados, sim, são comprovadamente prejudiciais à saúde. Se quiser ler um pouco mais sobre isso, clique aqui.

A abordagem publicitária pode induzir a confusão do que realmente é uma alimentação saudável. Adaptado de shutterstock.com, 2022.

Mais uma vez, vamos bater na tecla de que uma boa saúde é necessariamente constituída de hábitos de vida saudáveis. Uma alimentação balanceada é um ponto inegociável no caminho da saúde e da qualidade de vida em longo prazo.

Por isso, é de vital importância compreender que o comportamento alimentar humano não pode ser resumido na ingestão de uma quantidade determinada de tal nutriente. Além disso, os alimentos naturais e minimamente processados (com raras exceções) não devem ser classificados simplesmente como “ruins”. E você, já crucificou algum alimento por causa de um nutriente?

   

As informações fornecidas neste blog destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para a orientação de um profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. As informações aqui apresentadas não têm o objetivo de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença.

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