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Microbiota e infecções urinárias: tem relação?

Publicado em 17 de outubro de 2022

 

O papel da microbiota tem sido discutido em diferentes contextos nos últimos anos. Mas você sabia que ela também pode estar envolvida na predisposição a infecções urinárias de recorrência?

Diferentes nichos, diferentes microbiotas

A microbiota tem sido um tema de destaque na área da saúde nos últimos anos. Isso porque diversas evidências vêm demonstrando que a colonização do corpo humano por microrganismos pode influenciar direta e indiretamente nossa saúde. Apesar de um grande destaque para a microbiota intestinal, temos outros nichos com microbiotas características, como a região urogenital. Quando comparada à intestinal, a microbiota urogenital é bem mais modesta, com uma biomassa de microrganismos bastante reduzida. Apenas para ilustrar, a microbiota urogenital normalmente tem menos de 10⁵ unidades formadoras de colônia (UFC)/ml enquanto a intestinal tem cerca de 10¹² UFC/g. 1

A partir de técnicas de análise do material genético bacteriano, hoje sabemos que existem pequenas diferenças entre homens e mulheres na composição da microbiota urinária. No entanto, os filos seguem proporções parecidas: Firmicutes (73% em mulheres e 65% nos homens), Actinobacteria (19% em mulheres e nos 15% homens), Bacterioidetes (3% em mulheres e nos 10% homens) e Proteobacteria (3% em mulheres e 8% nos homens). Já os gêneros mais comuns são Prevotella, Escherichia, Enterococcus, Streptococcus ou Citrobacter. Nas mulheres, os Lactobacillus são mais abundantes, enquanto nos homens são Corynebacterium e Streptococcus. 1

Alguns microrganismos já foram associados à saúde da microbiota urogenital feminina. É o caso dos Lactobacillus crispatus e Lactobacillus iners, e da Gardnerella vaginalis. Além das bactérias, a microbiota também conta com outros microrganismos como fungos e vírus, mas devido a limitações metodológicas, ainda são escassas suas caracterizações.

Diferença da composição bacteriana da microbiota intestinal, vaginal e urinária em mulheres. 1 Adaptado de shutterstock.com, 2022.

Assim como a microbiota intestinal, a microbiota urogenital tem um papel importante na estimulação da resposta imunológica. Já foi descrito que ela modula a resposta inflamatória e auxilia no combate de patógenos associados às infecções urinárias. 2

Alguns parâmetros influenciam diretamente no equilíbrio da microbiota urogenital – como o pH, a tensão de oxigênio e a disponibilidade de nutrientes no local – e podem favorecer o crescimento de microrganismos patogênicos. Além disso, já foram descritas mudanças na composição da microbiota dependentes dos níveis de estrogênio e da idade, que também podem facilitar infecções do trato urinário (ITUs). 1

Microbiota urogenital e as infecções urinárias

A caracterização e estudo da microbiota urogenital tem ganhado mais atenção a partir de algumas evidências de associação com algumas doenças, como as ITUs, incontinência urinária, bexiga hiperativa e câncer renal. 1,2

As ITUs, em especial, são bastante comuns entre as mulheres. Estima-se que entre 50 e 60% das mulheres sofrerá com elas pelo menos uma vez ao longo da vida. Destas, aproximadamente 25% terão episódios recorrentes, as chamadas infecções urinárias de recorrência. 3,4

As ITUs são caracterizadas por uma colonização da uretra (uretrite), que pode atingir a bexiga (cistite). Nos casos mais graves pode atingir os rins (pielonefrite) e até mesmo a corrente sanguínea (urosepse). Cerca de 80% dos casos de ITUs são associados à proliferação e colonização de Escherichia coli. Outras espécies comuns neste tipo de infecção são os Enterococcus e Staphylococcus. Embora a E. coli seja uma das bactérias comuns da microbiota dessa região (principalmente da região vaginal), sob algumas condições ela pode desencadear uma ITU. Uma das principais condições que leva a esse cenário é o crescimento de outra bactéria, a Enterococcus faecalis que modula o microambiente e favorece o crescimento exagerado de E. coli, bem como a formação de biofilmes (que são emaranhados de bactérias) e a evolução da ITU. 1,5

Outras bactérias da microbiota comensal urinária (como Corynebacterium glucuronolyticum, Streptococcus gallolyticus e Aerococcus sanguinicola) também têm sido descritas como uropatógenos oportunistas. Isso significa que normalmente elas estão presentes sem causar doenças, mas quando a imunidade está reduzida, por exemplo, elas podem levar ao quadro de infecção.


Fatores de risco para a ocorrência de infecções do trato urinário em mulheres. Adaptado de shutterstock.com, 2022.

 

A suplementação como estratégia preventiva

As evidências demonstram que a microbiota também influencia a suscetibilidade do hospedeiro às ITUs, o que nos leva ao raciocínio de que a sua modulação também poderia ser uma aliada na proteção contra essas infecções. De fato, alguns trabalhos já demonstraram que isso é possível. Um estudo clínico que analisou 100 mulheres com histórico de ITUs recorrentes demonstrou que a suplementação com o probiótico Lactobacillus crispatus reduziu a incidência dessas infecções. 6

Outra abordagem que tem sido estudada é a suplementação com compostos que inibem a aderência bacteriana às células uroepiteliais. É o caso dos extratos de Cranberry e da D-manose, por exemplo. Os polifenois presentes em extratos de Cranberry são metabolizados e ligam-se às bactérias, em especial a E.coli, impedindo a sua fixação nas células da bexiga e reduzindo a chance de infecção. A D-manose age de maneira bastante semelhante, sendo outra indicação profilática comum principalmente para mulheres com ITUs recorrentes. 7,8

A prevenção e manejo das ITUs são questões importantes e que podem melhorar a qualidade de vida de uma parcela grande da população, principalmente das mulheres. Na dúvida, o ideal é sempre estar atenta ao seu corpo e se os episódios forem muito frequentes, buscar alternativas junto à sua ginecologista ou urologista de confiança. O manejo e prevenção também podem envolver algumas mudanças de hábitos. O consumo de uma quantidade adequada de água, por exemplo, é um fator que merece bastante atenção. E você, já está com sua garrafinha de água a postos?

 

As informações fornecidas neste blog destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para a orientação de um profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. As informações aqui apresentadas não têm o objetivo de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença.

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