Homens ou mulheres: quem vive mais (e por quê)?
Publicado em 28 de outubro de 2022
Você já viu uma daquelas publicações divertidas, com uma imagem de um homem fazendo algo bastante arriscado com uma alegação de que seria por isso que os homens vivem menos? Diversas imagens desse tipo estão disponíveis na internet e, de vez em quando, voltam a ganhar destaque ao serem muito compartilhadas. Mas será que tem algum fundo de verdade nisso ou é só um “meme” mesmo?
Os homens têm menor expectativa de vida do que as mulheres?
Para desespero masculino: sim, na média, eles vivem menos! Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020 revelam que a expectativa de vida no Brasil é de 73,3 anos para os homens e de 80,3 anos para as mulheres. E além do nosso país, estudos apontam que esse padrão também é obervado em todas as regiões do globo. 1
Diferenças quanto à expectativa de vida entre homens e mulheres por país. 2 Adaptado de shutterstock.com, 2022.
Mas por que os homens vivem menos?
A resposta para essa questão pode ser um pouco complexa. Isso porque existem diversos fatores a serem considerados.
No geral, os homens assumem mais riscos do que as mulheres. O lobo frontal – que é a parte do cérebro que fica mais ou menos na região da testa – é responsável, entre outras coisas, pelo controle da impulsividade e do julgamento de uma determinada situação. Ele faz a integração das nossas estratégias comportamentais com a avaliação das consequências delas. Para ilustrar, se você estivesse em um barco afundando, essa é a região que te ajudaria a escolher entre tentar drenar a água para fora ou abandonar o barco. Acontece que essa região amadurece mais lentamente nos homens do que nas mulheres, o que significa que homens jovens têm uma tendência de analisar menos as consequências dos seus atos. 3
Isso se reflete em um maior número de óbitos por diversas causas, como acidentes de trânsito com motoristas alcoolizados e conflitos com violência física. Além disso, esse fator também pode refletir em escolhas menos saudáveis e com consequências graves em longo prazo, como fumar e abusar do álcool. Os homens também são maioria nos trabalhos que envolvem maior risco. É o caso de ocupações como bombeiros, forças de segurança, mineradores e trabalhadores da construção civil. 4
Os homens cometem mais suicídios do que as mulheres. Apesar dos dados demonstrarem uma maior prevalência de depressão nas mulheres, os homens acabam tendo maiores taxas de suicídio. Dentre as hipóteses levantadas para explicar isso, acredita-se que os homens buscam menos ajuda para manejar problemas de saúde mental. De fato, os homens evitam mais o sistema de saúde de maneira geral. Dados demonstram que os homens têm uma tendência muito maior de negligenciar a rotina de cuidados com a saúde do que as mulheres. Eles, por exemplo, visitam muito menos os médicos para exames de rotina. 4,5
Essa negligência quanto aos cuidados preventivos com a saúde também pode influenciar um outro fator que aumenta as taxas de óbito masculino: o cuidado com as doenças cardiovasculares. Os homens têm probabilidade 50% maior de óbito por doenças cardíacas. Uma das razões que favorecem as mulheres nesse quesito tem a ver com os níveis de estrogênio, hormônio que tem um efeito cardioprotetor. Outro ponto que pode estar envolvido é o menor controle da pressão arterial e dos níveis de colesterol por falta de acompanhamento médico adequado, uma vez que, como comentamos, em geral eles são mais negligentes com a própria saúde.5
Eles são menos conectados socialmente. Os homens tendem a ter menos conexões – principalmente em se tratando das profundas – do que as mulheres. Esse fator também pode ter uma influência social, já que relacionamentos mais próximos tendem a expor certas vulnerabilidades, algo que em muitas culturas é desestimulado desde cedo nos meninos. Não está bem claro o motivo, mas pessoas menos conectadas socialmente têm maiores taxas de óbitos. 5
A genética também joga um pouco contra eles. Se resgatarmos lá da biologia básica, os homens têm cromossomos XY, enquanto as mulheres têm XX. O cromossomo Y costuma desenvolver mutações com mais frequência do que o cromossomo X. Além disso, quando ocorrem mutações no cromossomo X, as mulheres têm uma chance de compensar o prejuízo com sua outra cópia de X. Já os homens, tendo apenas uma cópia, podem manifestar mais facilmente os distúrbios resultantes desse tipo de mutação. Ainda, fetos masculinos têm uma chance menor de sobrevivência no útero, e os distúrbios de desenvolvimento são mais comuns entre os meninos – o que, muitas vezes, também encurta a expectativa de vida. 4,5
Como contrariar as estatísticas?
Apesar de todos esses fatores que comentamos, é possível melhorar as chances de longevidade masculina. O foco deve ser nos fatores que podem ser modificados, como por exemplo, ter uma maior atenção às consultas médicas preventivas. Quebrar possíveis tabus a respeito da saúde mental e buscar ajuda quando necessário é extremamente importante.
Algumas medidas podem aumentar a expectativa de vida masculina. Adaptado de shutterstock.com, 2022.
Se você é homem não precisa se desesperar. É importante lembrar que esse tipo de análise é feita com base em populações e não são determinantes para casos individuais. Mesmo a estatística sendo desfavorável à longevidade masculina, em comparação com a feminina, não faltam exemplos de homens que superam a expectativa de vida e chegam ao centenário. Para isso, a melhor aposta é cultivar o autocuidado durante toda a vida!
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